Em fevereiro, primeiro mês de atuação do setor no combate à
corrupção e à lavagem de dinheiro, notários e registradores já lideram o número
de alertas ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras
No primeiro mês de vigência da
norma que incluiu os cartórios no combate à corrupção e à lavagem de dinheiro
no Brasil, foram reportadas, por esta atividade, 37.365 comunicações suspeitas
ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), número maior que
qualquer outro segmento que integra o cerco a crimes financeiros no País, como
bancos, cooperativas de crédito, joalherias, entre outros.
De acordo com o regulamento que
entrou em vigor no dia 3 de fevereiro — Provimento nº 88/2019 do Conselho
Nacional de Justiça –, devem ser comunicadas ‘operações sem o devido fundamento
legal ou econômico’ e também aquelas que envolvam o pagamento ou recebimento de
valor em espécie acima de R$ 30 mil — foram 5.816 casos do tipo no mês passado.
As informações foram divulgadas
pela Assessoria de Imprensa da Associação dos Notários e Registradores do
Brasil.
Devem ser relatadas ao Coaf,
ainda, atividades que indiquem ganho substancial de capital em um curto período
de tempo e ações relativas a bens de luxo ou alto valor, de quantia igual ou
superior a R$ 300 mil, entre outros casos.
O texto inclui, dentre os atos a
serem remetidos ao Coaf, as transmissões do mesmo bem material, realizadas em
menos de seis meses, se a diferença entre os valores declarados for superior a
50%, e doações de imóveis avaliados em, no mínimo, R$ 100 mil para terceiros
sem vínculo familiar.
Todas as informações remetidas
são sigilosas.
O papel dos cartórios no combate
aos crimes financeiros de corrupção e lavagem de dinheiro e a prática das
comunicações enviadas à unidade de inteligência financeira serão tema do Seminário
‘Provimento 88 — Notários e Registradores no combate à lavagem de dinheiro’,
que ocorre nesta quinta, 12, a partir das 9h, no auditório do Conselho da
Justiça Federal, em Brasília.
O evento vai reunir o presidente do Supremo,
ministro Dias Toffoli, do corregedor nacional de Justiça, ministro Humberto
Martins, do presidente do Coaf, Ricardo Liáo, além de outros personagens que
atuam no combate à lavagem de dinheiro no Brasil.
Comunicações suspeitas
Desde fevereiro deste ano,
transações de compra e venda de imóveis, procurações, dívidas e registro de
empresas que envolvam suspeitas de corrupção, lavagem de dinheiro e
financiamento ao terrorismo passaram a ser analisadas pelos cartórios do País.
A iniciativa visa combater
fraudes nas transmissões imobiliárias e a utilização das chamadas empresas de
fachada, e já é adotada por cartórios em países como Espanha, Portugal, Itália,
França, que atuam sob o mesmo sistema jurídico que no Brasil.
A regulamentação nacional da
atuação de notários e registradores era uma exigência do Grupo de Ação
Financeira Internacional (GAFI), órgão que atua no combate a crimes financeiros
em todo o mundo, e deu cumprimento a Lei da Lavagem de Dinheiro (Lei nº
9.613/98), que previa o ingresso de notários e registradores no rol de sujeitos
obrigados a efetuar comunicações suspeitas.
Fonte: Estadão