Belgrado, Sérvia – Entre os dias 8 e 11 de maio, a
delegação do notariado brasileiro representando o Conselho Federal do Colégio
Notarial do Brasil (CNB/CF) marcou presença nas Reuniões Institucionais da
União Internacional do Notariado (UINL). O evento, realizado em Belgrado, na
Sérvia, contou com a participação ativa de representantes brasileiros em
debates cruciais para o futuro do notariado mundial.
Principal tema do encontro, o debate em torno do
Código Internacional do Notariado envolveu representantes de 91 países do mundo
e centrou-se, particularmente, nas discussões sobre três itens polêmicos. O
texto será levado à votação nas reuniões de outubro da entidade, em Lisboa,
Portugal.
Conforme indicado pelos conselheiros do Brasil,
presentes nos debates, as polêmicas envolvem a existência de notários
substitutos em alguns países, bem como a competência para substituição do
notário titular quando de suas ausências ou impedimentos. Países como
Argentina, Espanha e Alemanha têm essa preocupação, inclusive no que se refere
à possibilidade de associação entre notários. Outros, como Bélgica e Holanda
têm suas atenções voltadas à disciplina da prática de atos por aspirantes ao
notariado.
Outro tema polêmico nas discussões é a possibilidade
de participação de mais de um notário na prática de um mesmo ato jurídico. Como
definir conflitos de responsabilidade e imparcialidade? Essa é uma situação existente em países como
Costa Rica e República Dominicana, porém, encontra oposição da maioria dos
países membros.
O terceiro tema que motivou intenso debate entre os
participantes, envolve o denominado notário multiprofissional, existente em
países onde a atividade notarial é exercida simultaneamente com outras
atividades, como advogados, corretores ou contadores. Essa é uma realidade em
países como Porto Rico e outros sete da América Central. Essas situações devem ser tratadas como
exceções na redação final do Código, pois, nas palavras de Alfonso Cavallé, da
Espanha, “colidem com funções e características essenciais de imparcialidade da
atividade notarial, inclusive sendo classificadas como fragilidade pelo
relatório do Gafi, órgão internacional de combate à lavagem de dinheiro”.
E-Notariado em destaque
A plataforma E-Notariado do Brasil foi um dos temas
centrais das reuniões, recebendo atenção especial dos países membros da UINL.
Na manhã do dia 9 de maio, Ubiratan Guimarães apresentou os avanços e a
utilização da plataforma, destacando a realização de mais de 3,5 milhões de
atos eletrônicos em quatro anos. Guimarães também apresentou a nova
funcionalidade das Smart Escrituras, atualmente em fase final de
desenvolvimento. “A plataforma e-Notariado proporciona ao notariado brasileiro
uma ferramenta de grande usabilidade e versatilidade”, afirmou, ressaltando o
impacto positivo da tecnologia na modernização dos serviços notariais.
Os membros da delegação brasileira também estiveram
envolvidos em diversas Comissões de Trabalho, abordando temas como Avanços
Digitais e Autenticidade, Combate à Lavagem de Dinheiro, e Igualdade de Gênero.
Fabiana Aurich e José Renato Vilarnovo, por exemplo, participaram das
discussões sobre Deontologia Notarial, focando na atualização do Código de
Ética da UINL para incluir novas tecnologias e práticas de atos notariais à
distância. Já Marcelo Lima Filho e Rodrigo Reis Cyrino integraram o Grupo de
Trabalho de Atos Digitais e Autenticidade, debatendo os avanços na prática de
atos eletrônicos, incluindo um estudo detalhado sobre a plataforma e-Notariado
do Brasil.
Temas em debate
As reuniões institucionais da UINL foram ainda palco
de debates em torno de dois temas especiais de discussão. O primeiro deles
envolveu a responsabilidade civil dos notários e o seguro profissional,
coordenado pelo notário belga Alain Deliège. Representantes do Brasil,
incluindo Ubiratan Guimarães, Flávio Fischer, José Renato Vilarnovo e Rodrigo
Reis Cyrino, contribuíram significativamente para as discussões, que abordaram
a segurança proporcionada por sistemas de seguro obrigatório e garantias
coletivas para notários. Destaque especial para o debate em torno dos sistemas
subsidiários de indenização e de garantia coletiva, adotado pelos notariados
europeus e que, via entidade nacional dos notários, fornece segurança a atuação
notarial nestes países.
Além disso, temas como a competência dos notários em
Direito Empresarial foram explorados, com contribuições de diversos países
sobre o papel específico dos notários na prevenção à lavagem de dinheiro e na
prestação de serviços empresariais.
Coordenado pela professora holandesa Birgit
Snijder-Kuipers, o tema da atuação notarial no Direito de Sociedades contou com
as experiências de países como Benin, Croácia, Espanha, Japão, México, Sérvia e
República de Maurício. Entre os temas debatidos. ”O alcance dos serviços
notariais em Direito das Sociedades” e o “O Papel específico dos notários em
Direito de Sociedades e a prevenção à lavagem de dinheiro”.
Também foram feitas apresentações sobre o valor da
intervenção notarial para o Estado, realizada por Corrado Malberti, do
notariado da Itália, e sobre o valor da intervenção notarial para o empresário,
feita por Peter Stelmaszczyk, do notariado da Alemanha.
Solidariedade e Apoio Internacional
Durante as reuniões do Conselho Geral da UINL,
Flávio Fischer, presidente do Colégio Notarial do Brasil – Rio Grande do Sul
(CNB/RS), fez um apelo emocionado por auxílio internacional após a catástrofe
natural que atingiu seu estado. Fischer relatou a devastação causada pelas
chuvas intensas, que resultaram em numerosas mortes, desaparecimentos e
destruição de infraestrutura, incluindo cartórios. Seu pedido por apoio à
reconstrução do estado e das unidades notariais afetadas foi recebido com aplausos
e solidariedade pelos membros da Assembleia.
Participam das Reuniões Internacionais em Belgrado
os conselheiros internacionais Ubiratan Guimarães, Flávio Fischer, Rodrigo Reis
Cyrino e José Renato Vilarnovo, e os membros de Comissões Elinalva Henrique da
Silva, presidente do CNB/CE, Marcelo Lima Filho, presidente do CNB/AM, e
Fabiana Aurich, notária em Cariacica (ES).
Fonte: CNB/CF