Campanha Máscara Roxa, que permite às mulheres vítimas de
violência doméstica denunciarem os agressores em farmácias, foi lançada nesta
terça-feira (25) para 36 cidades de abrangência das associações dos municípios
dos Campos de Cima da Serra (AMUCSER), Turismo da Serra (AMSERRA) e Nordeste
Riograndense (AMUNOR), no Rio Grande do Sul. A atividade, realizada por
videoconferência devido à pandemia do coronavírus, foi promovida pelo Comitê
Gaúcho ElesPorElas, da ONU Mulheres. Ela encerrou os roteiros de lançamentos
virtuais da campanha, que desde julho ocorreram para as 27 regiões do estado,
contemplando os 497 municípios.
O deputado estadual Edegar Pretto, coordenador do Comitê,
destacou que o objetivo da iniciativa é mobilizar os poderes locais e a
sociedade civil para ampliar o número de farmácias participantes. “Queremos que
mais farmácias abram suas portas para a igualdade e para o combate à violência
contra as mulheres”.
Até o momento, já são mais de 1.400 unidades de seis redes
envolvidas – Associadas, Agafarma, Vida, Preço Mais Popular, Tchê Farmácias e
Líder Farma. Em sete dos dez municípios dos Campos de Cima da Serra há
estabelecimentos participantes. Turismo da Serra seis dos sete. E no Nordeste
Riograndense 14 dos 19.
O coordenador explicou que a Campanha Máscara Roxa surgiu de
uma recomendação da ONU, que orientou a seus países a constituição de políticas
de enfrentamento à violência doméstica contra a mulher, devido ao aumento e à
subnotificação dos casos, em todo o mundo, no período de isolamento social. “A
convivência maior do agressor com a vítima em casa potencializou essa
violência, que muitas vezes antes da pandemia já era corriqueira”.
No RS, o Comitê ElesPorElas optou pelo envolvimento das
farmácias como canais facilitadores da denúncia, porque elas permanecem abertas
mesmo em situações de lockdown por serem serviços essenciais. Pretto ressaltou
que, se a vítima tiver alguma dificuldade de ir até uma farmácia participante
da campanha, as denúncias podem ser feitas por familiares, vizinhos ou amigos.
“As mulheres estão com dificuldades de sair da condição de
sofrimento. Por isso constituímos aqui no estado uma política pública eficaz,
segura e discreta, junto aos poderes e às farmácias, para ajudá-las a romper
esse ciclo de violência”, salientou.
Até o momento, 23 denúncias foram recebidas em farmácias de
20 municípios gaúchos: Venâncio Aires, Capão da Canoa, Casca, Bento Gonçalves,
Pinhal, Porto Alegre (3), Rio Grande (2), Taquari, Carazinho, Santo Antônio da
Patrulha, Canoas, Capão do Leão, Charqueadas, Santana da Boa Vista, Santa
Maria, Gravataí, Novo Hamburgo, Três Passos, Vitória das Missões e Arroio
Grande. Além disso, duas prisões ocorreram em flagrante, em Porto Alegre e Rio
Grande.
A Campanha Máscara Roxa também foi motivada pelo aumento de
casos de feminicídios no RS durante o isolamento social. Nos meses de março,
abril e maio 28 mulheres foram assassinadas por questões de gênero, conforme
dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado. Somente em abril, o aumento
foi de 66,7% em relação ao mesmo mês do ano passado. Ao todo, de janeiro a
junho deste ano, 51 mulheres morreram vítimas de feminicídios no estado, 166
registraram ocorrência de tentativa de feminicídio e 9.685 registraram
ocorrência de agressão com lesão corporal.
Lei da Máscara Roxa - O deputado Edegar Pretto informou
aos participantes do lançamento que, nesta segunda-feira (24), o governador
sancionou a Lei da Máscara Roxa, criada pelo parlamentar. A nova legislação
reforça a Campanha Máscara Roxa, realizada desde junho em todo o estado, e a
oficializa como política pública. De acordo com Pretto, a ideia é
regulamentá-la na Assembleia Legislativa, para que se torne uma política
permanente no estado, mesmo após o término da pandemia.
Como funciona a campanha - Lançada no dia 10 de junho
no RS, com peças criadas pela Agência Moove, a Campanha Máscara Roxa
permite que mulheres vítimas de violência doméstica façam denúncias em farmácias.
Todas que aderiram estão com o selo “Farmácia Amiga das Mulheres”, que serve
para que as vítimas as identifiquem. Os atendentes receberam capacitação online
para o procedimento e para garantir a segurança da vítima.
Ao chegar na farmácia a mulher deve pedir a máscara roxa,
que é o código para que o atendente saiba que se trata de um pedido de ajuda. O
profissional dirá que o produto está em falta e pegará alguns dados para
avisá-la quando chegar. Após, o atendente da farmácia passará à Polícia Civil
as informações coletadas, via WhatsApp, para que o órgão tome as medidas
necessárias.
Edegar Pretto lembrou que qualquer farmácia pode aderir.
Segundo ele, o objetivo é envolver também aquelas que não fazem parte de
grandes redes, mas que estão em cidades menores. Interessados devem entrar em
contato com o Comitê: 51 991993641 ou comite.gaucho.elesporelas@gmail.com
Participações - O lançamento regional contou com a
participação de representantes de órgãos de segurança, Poder Judiciário,
Legislativo, movimentos de mulheres, proprietários de farmácias, lideranças
locais, representações de instituições, da sociedade e trabalhadores da
imprensa.
Promotora de Justiça de Vacaria, Bianca Acioly de Araújo
afirmou que a mulher vítima de violência é cercada por preconceito e tem
dificuldade em buscar ajuda. “Todos esses canais em que a vítima possa se
sentir segura são bem-vindos”.
A delegada Alexandra Ferreira, da Delegacia Especializada de
Atendimento à Mulher (DEAM) de Lagoa Vermelha, disse que a Lei Maria da Penha
possibilitou à polícia combater de forma mais efetiva a violência doméstica
contra as mulheres. Ela relatou que hoje o pedido de ajuda é feito por meninas
e mulheres, de todas as idades. “Vejo meninas que são agredidas e humilhadas
pelos namorados. E mulheres, senhoras e avós, que estão há 10, 20, 30 anos
sendo violentadas dentro do lar, por pessoas que deveriam amá-las e
protegê-las, que são os seus companheiros, seus filhos, seus pais”.
Representando as Farmácias Associadas, o farmacêutico Rafael
Kleinkauf contou que a rede está presente em todas as regiões do estado,
representada por pequenos empresários que têm relação direta e de confiança com
as comunidades. “Para a mulher será mais fácil ir à farmácia do que até a
delegacia para denunciar. Estamos preparados para receber essa vítima ou as
pessoas que vierem nos contatar”.
Representando as três associações de municípios, o prefeito
Claudiomiro Fracasso, de Ibiaçá, reforçou que a Lei Maria da Penha propiciou um
avanço no combate à violência contra as mulheres. No entanto, falou que ainda
não é suficiente. Ele apontou que a sociedade ainda precisa evoluir e que todos
os municípios devem estar engajados nessa causa. “Precisamos nos somar a essa
grande batalha pelo fim da violência contra as mulheres”.
Presidenta da Associação dos Defensores Públicos do Estado
(Adpergs), Juliana Lavigne argumentou que o projeto é extremamente importante,
pois abre mais uma porta de acesso às vítimas de violência doméstica. Ela
defendeu que sejam viabilizados abrigos a essas mulheres, para que tenham
condições de sair da condição de violência.
Representando as Câmaras de Vereadores das regiões, a
vereadora Selmari Souza, de Vacaria, frisou que a campanha é importante e
necessária para combater a violência contra as mulheres, que é complexa e
aparece de várias formas. “Infelizmente, ainda vivemos numa sociedade em que o
machismo justifica tais comportamentos”.
Representando a Diocese de Vacaria, Orildo Carlos Bassoli
destacou que a instituição é parceira da campanha e que já desenvolve o projeto
Empoderar, que reúne vários coletivos de mulheres em ciclos de debates sobre o
empoderamento feminino e a prevenção da violência doméstica. “É um trabalho de
conscientização, de resgate da dignidade das mulheres”.
Representando o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB),
Orilda da Silva ressaltou que a organização sempre defendeu os direitos das
mulheres e que é parceira do Comitê Gaúcho ElesPorElas na Campanha Máscara
Roxa. “É muito gratificante participar desta iniciativa. O MAB está totalmente
engajado nesse trabalho de combater a violência contra a mulher”.
Também participaram do lançamento a juíza-corregedora do
Poder Judiciário, Gioconda Fianco Pitt; a defensoria pública Liseane Hartman,
representando a Defensora Pública do Estado; a diretora do Departamento de
Políticas para Mulheres do Estado, Bianca Feijó; o major da Brigada Militar
Giovani Gomes; a gerente regional da Emater/RS-Ascar, Sandra Dalmina; e a
secretária-geral do Cpers-Sindicato, Cândida Rossetto.
Dos dez municípios dos Campos de Cima da Serra, sete possuem
Farmácias Amigas das Mulheres: Bom Jesus (Associadas), Campestre da
Serra(Agafarma), Esmeralda (Agafarma / Líder Farma),
Jaquirana(Associadas), Pinhal da Serra (Líder Farma), São José dos Ausentes:
(Associadas), Vacaria (Associadas / Preço Mais Popular)
Dos sete municípios do Turismo da Serra, seis possuem
Farmácias Amigas das Mulheres: Cambará do Sul (Associadas),
Canela(Associadas / Tchê Farmácias), Gramado (Associadas / Vida /
Agafarma), Nova Petrópolis (Associadas / Vida), Santa Maria do
Herval (Associadas / Vida), São Francisco de Paula (Associadas / Tchê
Farmácias / Agafarma)
Dos 19 municípios do Nordeste Riograndense, 14 possuem
Farmácias Amigas das Mulheres: Barracão (Líder Farma / Vida), Cacique
Doble (Líder Farma / Vida), Caseiros (Associadas), Ibiaçá
(Associadas / Líder Farma), Ibiraiaras (Associadas / Agafarma),
Lagoa Vermelha(Associadas), Machadinho (Associadas / Vida),
Paim Filho(Líder Farma), Sananduva (Associadas / Líder Farma / Tchê
Farmácias / Vida), Santa Cecília do Sul (Líder Farma), Santo Expedito do
Sul (Líder Farma), São João da Urtiga (Líder Farma), São José do
Ouro (Agafarma / Vida), Tapejara (Agafarma / Vida / Tchê Farmácias / Líder
Farma / Mais Saúde)
Fonte: Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul