O Poder Judiciário manteve a qualidade dos serviços
prestados apesar da crise sanitária decorrente do novo coronavírus. De acordo
com os corregedores que participaram do seminário digital “A
Pandemia e o acesso à Justiça: impactos, transformações e novos desafios”,
promovido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) na sexta-feira (21/8), nem o
trabalho remoto nem o ineditismo da emergência de saúde pública impediram o bom
funcionamento dos tribunais. Conhecidos por lidar com a questão disciplinar na
magistratura, os corregedores também são responsáveis por garantir o bom desempenho
das atividades das cortes.
O corregedor nacional de Justiça, ministro Humberto Martins,
destacou a pronta resposta do Poder Judiciário à sociedade no enfrentamento da
pandemia. Mas fez o alerta de que a situação emergencial ainda impõe grandes
desafios à Justiça brasileira, principalmente em relação ao aumento no
ajuizamento de ações.
Segundo o ministro, o momento exige maior democratização do
acesso à Justiça, para que sejam tuteladas todas as situações juridicamente
protegidas contra quaisquer atos lesivos e dar conta dessa demanda não depende
apenas do Judiciário. “O aperfeiçoamento do acesso à Justiça, seja neste
período de pandemia, seja quando vencermos esta crise sanitária, não é e nem
será uma missão isolada, mas, sim, uma missão de diálogo interinstitucional,
bem como de proximidade com representantes dos Poderes Executivo e Legislativo,
do Ministério Público, da OAB, das Procuradorias, das Defensorias, além de
estudiosos, membros de comissões e conselhos de direitos e da sociedade civil.”
Retomada
Em relação ao CNJ, Humberto Martins citou os principais atos
normativos editados e que permitiram a continuidade da atividade jurisdicional
no país. Quanto à retomada das atividades presenciais, o ministro relembrou as
medidas de segurança exigidas pelo Conselho Nacional de Justiça na Resolução
CNJ 322/2020, ressalvando, ainda, que cada tribunal deverá considerar a sua
realidade local antes do retorno.
“É um momento de reforçarmos nossos vínculos, nosso trabalho
conjunto e nossa cooperação não só entre magistrados, mediadores,
conciliadores, árbitros, mas também com os demais operadores do direito,
profissionais que sempre tornaram a Justiça possível e que têm muito a
contribuir com o Poder Judiciário para que este momento crítico trazido pela
pandemia seja superado com dignidade e respeito ao cidadão”, concluiu o
corregedor nacional.
Veja a íntegra da
fala do ministro Humberto Martins
De acordo com o corregedor-geral da Justiça do Trabalho,
ministro Aloyisio Corrêa da Veiga, a continuidade dos serviços prestados pela
Justiça do Trabalho se deve à normatização das atividades administrativas e
processuais, além do aporte tecnológico. A falta de normativos que regulassem o
funcionamento desse ramo da Justiça foi um dos primeiros desafios que a
pandemia impôs. A última doença que mobilizou o país havia ocorrido um século
antes, a gripe espanhola de 1919, de acordo com o ministro.
Correa da Veiga listou os atos da própria corregedoria, os
atos conjuntos com a Presidência do Tribunal Superior do Trabalho (TST) e os
normativos do CNJ que asseguraram o funcionamento dos tribunais com respeito às
normas sanitárias preventivas. A regulamentação do trabalho remoto nesse ramo
da Justiça e o uso da tecnologia foram centrais no esforço desse ramo da
Justiça e asseguraram o amplo direito de defesa, sustentações orais nas sessões
de julgamento e a continuidade dos serviços prestados, por meio de sessões,
depoimentos de testemunhas e audiências telepresenciais.
“Na Justiça do Trabalho, a questão é muito mais sensível,
diante da natureza alimentar dos créditos trabalhistas, revelando a necessidade
indiscutível em dar curso aos julgamentos em trâmite. Os conflitos surgidos com
a crise econômica bem como as controvérsias decorrentes das relações
jurídico-trabalhistas afetam as atividades essenciais, conforme definidas por
lei, como a atividade jurisdicional, que está exposta a maiores riscos. São
apenas alguns dos fatores que elevam a importância da atuação dos juízes do
trabalho durante o período de incertezas e excepcionalidade que vivemos em
2020.”
Justiça Federal
O corregedor do Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5),
desembargador Carlos Rebêlo, afirmou que a pandemia não afetou nem a demanda
nem o volume de ações julgadas pelos magistrados do TRF5. O que preocupa o
magistrado é o cenário futuro e o passivo que pode ser gerado pela busca do
auxílio emergencial do governo federal por pessoas que tiveram o direito ao
recurso negado. Citando dados da Caixa Econômica Federal, Rebêlo informou que
no universo de 106,1 milhões de cidadãos cadastrados, 59 milhões têm direito ao
auxílio e outros 42,2 milhões não foram considerados elegíveis.
“O cenário futuro que está chegando aí é uma avalanche com
números monumentais, incontrolável pelo fator do auxílio emergencial, por causa
da quantidade de inelegíveis que estão apresentando pleitos judiciais. Se 10%
deles forem em busca de tutelas jurisdicional, teremos 4 milhões de novas ações
tramitando. É um número impressionante”, afirmou. Em 2018, pela primeira vez em
10 anos, o acervo de ações judiciais que tramitam no país registrou queda.
Passou de 80 milhões, em 2017, para 78,7 milhões. O anuário estatístico com os
dados de 2019 será apresentado pelo CNJ na próxima semana.
O representante da Justiça Estadual, corregedor do Tribunal
de Justiça do Rio Grande do Norte (TJRN), desembargador Amaury Sobrinho,
apresentou dados que comprovam a manutenção do nível de produção dos
magistrados no período da pandemia. Entre 20 de março e 16 de agosto, a
diferença entre os principais indicadores é pequena. Se as sentenças caíram de
114 mil para 101 mil, houve mais despachos no mesmo período. Subiram de 268 mil
para 281 mil.
“Não houve impacto e isso se deu ao esforço não só devido à
atuação efetiva do CNJ, diante dessa ausência de parâmetros pré-existentes,
como disse o ministro Aloysio, que possibilitou que a máquina judiciária
seguisse funcionando, mas também graças ao empenho da corregedoria e da
presidência”, afirmou. De acordo com o desembargador Sobrinho, as inspeções e
correições continuam com frequência semanal, em ambiente virtual.
Para a ouvidora do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região
(TRT21), desembargadora Perpétuo Wanderley, no período da pandemia, nenhum dos
387 pedidos de informação encaminhados ao órgão se tratava de reclamação dos
mecanismos tecnológicos que garantiram o funcionamento do tribunal. “A
Ouvidoria se tornou desaguadouro da perplexidade do jurisdicionado”, afirmou.
Cerca de 200 manifestações foram registradas a cada mês, em média, a maioria
delas (45%) referente a pedidos de informações. De acordo com a desembargadora,
as “pessoas precisavam de atenção, de que fossem ouvidas, de que fossem
acolhidas e foi esse acolhimento que a Ouvidoria procurou dar.”
De acordo com o mediador do encontro, conselheiro do CNJ e
ministro do TST, Emmanoel Pereira, o fato de a Justiça ser uma atividade
essencial impôs “enormes desafios” à operação do Poder Judiciário devido ao
isolamento social e à pandemia, que estão sendo vencidos com o trabalho remoto.
“A crise abriu espaço para transformações profundas, algumas que provavelmente
se expandirão e quiçá permanecerão”, afirmou o conselheiro, que também ocupa a
função de corregedor Nacional de Justiça substituto.
Fonte: Conselho Nacional de Justiça