A sua liberdade termina quando começa a do outro, já dizia
Herbert Spencer. Essa frase deveria nortear nossas relações interpessoais e
profissionais, pois demonstra empatia e, sobretudo, respeito ao outro.
Esse ensinamento veste como uma luva para os dias atuais,
especialmente porque com o confinamento necessário para o achatamento da curva
da pandemia, muitos casais passaram a dividir a integralidade do tempo juntos,
o que antes disso não era uma realidade e o que significa respeitar o espaço do
outro.
Casamentos mais jovens são formados, em sua maioria, por
pessoas impacientes e intolerantes com o erro, obcecados tão somente pela
satisfação dos próprios anseios. Casamentos mais maduros são formados, também
em sua maioria, por pessoas capazes de tolerar erros, de saber ouvir, coisas
que só o calejar da relação pode trazer.
Com o advento da EC 66/2010 o divórcio ficou mais fácil,
bastando a vontade das partes para que a união seja rompida. Mas, será que
existe alguém que se casa pensando no divórcio? E a máxima do até que a morte
nos separe? O que de tão impactante nos casamentos trouxe a epidemia senão o
desafio de viver e conhecer o outro? Prometo amar e respeitar, até que a morte
quarentena nos separe.
Números de divórcios explodem na China – Recentemente vêm
sendo noticiado o recorde de divórcios vivenciados na cidade de Xi’am, na
China. Esse crescimento é um claro efeito colateral da pandemia do novo
coronavírus, já que com o isolamento, os casais passaram a ficar 24h juntos sob
o mesmo teto, facilitando a ocorrência de atritos.
Mas essa estatística não é uma novidade. Desde de 2007 já se
noticia aumento dos números de divórcio entre os chineses, portanto, 13 anos
atrás. Os números seguem crescendo pois expectativas mais altas são criadas, as
pessoas não carregam relacionamentos em que não se sintam plenamente satisfeitas
e felizes.
O que esperar dos casamentos no Brasil após a crise? – O que
se observa na China é um cenário muito provável no Brasil em um futuro próximo,
pois muitos casais passarão a se conhecer durante o isolamento. A
desburocratização do divórcio, por si só, já permite que você se sinta livre e
escolha manter-se ou não dentro de um relacionamento e pelo tempo que desejar.
É por isso que nos tribunais brasileiros as taxas de divórcio crescem a cada
ano, e não há uma única razão para que isso ocorra.
É um conjunto multifatorial que, nesse atual cenário, muito
provavelmente ficará incubado durante a quarenta e irá eclodir com a amenização
da pandemia, com a possibilidade de se locomover, acionar instâncias judiciais
ou extrajudiciais para colocar um ponto final na união.
Seria o divórcio a próxima pandemia? Até certo ponto pode-se
dizer que sim, especialmente se observarmos a proliferação rápida e o seu
crescimento (que muitas vezes sequer fará parte de alguma estatística
considerando o grande número de uniões informais que existem no Brasil). Mas se
pensarmos na pandemia no sentido de ser um mal, não necessariamente.
O fim de um relacionamento sempre vem acompanhado de uma
desestruturação emocional, é inevitável. Mas não significa algo de todo ruim,
desde que você enxergue a metade do copo cheia.
Casar é uma escolha e divorciar também é. Não existe uma
receita pronta para a vitaliciedade da união. Pode ser que os números cresçam,
sim, mas com toda certeza muitos ficarão intactos e ainda mais sólidos. Nunca se
falou tanto em tolerância.
Fonte: Estadão