A instalação e a atuação de
comissões de soluções fundiárias nos tribunais de Justiça do país contam com a
assessoria do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A informação foi reforçada
pela juíza auxiliar da presidência Fabiane Pieruccini no encerramento do
Seminário Soluções Fundiárias: Perspectiva de Atuação do Judiciário no Regime
de Transição Estabelecido na ADPF 828.
“O maior interesse é impactar a
vida das pessoas e das comunidades”, pontuou a magistrada ao final da tarde do
segundo e último dia do seminário.
Na primeira palestra, a
advogada Deborah Duprat, integrante do Observatório Pesquisa, Ciência e
Liberdade da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e juíza do
Tribunal Permanente dos Povos (TPP), analisou a evolução do tratamento das
ações possessórias e dos direitos fundiários (individuais e coletivos).
Ela apresentou o resultado de
uma série de pesquisas feitas nos últimos anos pelo CNJ e por outros órgãos
como o Ministério da Justiça, que mostram as dificuldades na tramitação das
demandas coletivas no Poder Judiciário.
Duprat citou, como exemplo, uma
ação envolvendo o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) em que,
embora a demanda seja coletiva, estava cadastrada como demanda de pessoas
físicas.
Paraná
A partir da ADPF 828, que impôs
o regime de transição para a retomada da execução das decisões de despejo
coletivo, os tribunais de Justiça e os tribunais regionais federais foram
orientados a instalar comissões de conflitos fundiários que possam servir de
apoio operacional aos juízes e a elaborar estratégia de retomada da execução de
decisões.
Patricia Elache Gonçalves,
secretária da Comissão de Conflitos Fundiários do Tribunal de Justiça do Paraná
(TJPR), contou sobre a instalação da comissão no estado, passando pela
estrutura e forma de atuação do grupo. “O trabalho é operacionalizado todos os
dias para a criação de um ambiente favorável de diálogo entre os envolvidos nos
conflitos”.
A secretária salientou as
dificuldades para a realização de levantamento de dados das ações possessórias
em tramitação no TJPR e a apuração da quantidade de mandados de reintegração de
posse pendentes de cumprimento. Porém, com auxílio da comissão, a partir de
maio, será possível obter um relatório mais eficiente.
No Paraná, a comissão é
vinculada à presidência. Ao receberem um mandado de reintegração de posse
pendente de cumprimento, o primeiro passo é agendar a visita técnica. “Na
maioria dos casos há poucas informações, nem sempre há o local exato ou quantas
pessoas estão naquela ocupação”.
Para criar um ambiente de
diálogo, ela reforça que é necessária a interlocução com todos os envolvidos.
“É preciso saber as expectativas e motivações tanto dos proprietários quanto
dos moradores”, reforçou. Ela ainda lembrou que as visitas técnicas são feitas
sempre com a presença do magistrado que preside a comissão. No TJPR, é o
desembargador Fernando Prazeres.
Durante o evento, o
desembargador do TJPR destacou que a atuação da Comissão de Conflitos
Fundiários tem conseguido resolver os conflitos de maneira humanizada, com a
participação de outros agentes públicos e da sociedade civil, além do poder
judiciário. E contou como tem, pessoalmente, atuado nos casos.
“Eram 70 famílias que viviam em
uma área rural há muitos anos e foram abandonadas à beira das estradas.
Atualmente, eles ainda estão em processo de reconstrução de suas casas e ainda
estamos em processo de mediação”, disse.
Desde a instalação da comissão,
foram realizadas 123 visitas técnicas em 53 municípios do estado, com 15.328
famílias visitadas. Esses números resultaram na realização de 127 audiências
conciliatórias, sendo 13 frutíferas e 39 que estão em andamento.
Responsabilidade
O estabelecimento do diálogo
com o Poder Judiciário, na questão das reintegrações de posse, se tornou mais
efetivo com a criação da Comissão de Conflitos Fundiários do TJPR, assegurou o
capitão da Polícia Militar do Paraná (PMPR) Íncare Correa de Jesus. Ele chefia
a Coordenadoria Especial de Mediação de Conflitos da Terra (Coorterra) da PMPR
desde a criação do órgão, em 2015.
Ele contou que visitou cada uma
das comarcas para propor a instalação de audiências de conciliação, além de ter
auxiliado na elaboração de diretrizes específicas de atuação da polícia militar
do Paraná. “A intenção é atuar preventivamente para evitar que seja necessária
a reintegração”, explicou.
O capitão esclareceu que o
Paraná tem 305 mil propriedades rurais e que dos 11 milhões de habitantes, 1,7
milhões são identificados como população rural. Ele defendeu que a preocupação
com as pessoas que vivem em uma área irregular deve ser de todos os órgãos da
administração pública tanto federais quanto estaduais. “É preciso manter o
diálogo interinstitucional e dividir as responsabilidades”, pontuou.
Assista a íntegra aqui: https://www.youtube.com/watch?v=NDRnmxyRNuY
Fonte: CNJ