O fenômeno da hiperjudicialização no
Brasil tem marcas singulares. Como apontado pelo Conselho Nacional de
Justiça (CNJ), na 16ª edição do "Relatório Justiça em Números", o
Poder Judiciário brasileiro encerrou o ano judiciário de 2019 com 77, 1 milhões
de processos judiciais em tramitação.[1] A 17ª edição do "Relatório
Justiça em Números" aponta que, a despeito da redução do acervo
processual, 75,4 milhões processos judiciais tramitaram no Brasil em 2020,
volume processual sem paralelo em outros países do mundo.[2]
Mas não é só: com mais de 1,1 milhão de
profissionais inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o país é o
recordista mundial em número de advogados. Além disso, juristas como o Ministro
do Supremo Tribunal Federal (STF) Luis Roberto Barroso e o ex-presidente da
República Michel Temer sustentam que o país lidera o ranking mundial de ações
trabalhistas, com mais de 3,6 milhões ações distribuídas apenas no ano de 2016.
Por sua vez, o Tribunal de Justiça de
São Paulo (TJSP), que conta com 360 desembargadores, detém o maior acervo
processual registrado para um tribunal de justiça, com mais de 20 milhões
processos judiciais em tramitação, consoante dados apresentados em 2019.[3]
Os números paulistas impressionam, mas
seguem o padrão nacional: no período de 19 de março de 2020 a 30 de março de
2020, durante o início do agravamento da pandemia da covid-19, os servidores e
magistrados atuantes na 1ª instância do Tribunal de Justiça de Minas Gerais
(TJMG) - o terceiro em volume de processos do país - praticaram nada menos que
973.468 atos processuais.[4]
Já o Tribunal de Justiça do Rio de
Janeiro (TJRJ), que possui o segundo maior número de servidores e processos em
tramitação, divulgou que - desde o dia 16 de março de 2020, quando iniciou-se o
Regime Diferenciado de Atendimento de Urgência (RDAU) - realizou mais de 140
milhões de movimentações processuais.[5]
Os números dos tribunais superiores
caminham em sentido semelhante: em maio de 2020, em entrevista ao programa
"Roda Viva", da TV Cultura, o então Presidente do Supremo Tribunal
Federal (STF), Ministro Dias Toffoli, afirmou que o tribunal é a suprema corte
que decide o maior número de casos no mundo. Como exemplo, revelou à época que,
em pouco menos de dois meses, o STF já havia recebido 1.800 casos envolvendo a
covid-19, proferindo 1.600 decisões.[6]
Por fim, o Superior Tribunal de Justiça
(STJ) informou que - durante o período de atendimento remoto (iniciado em 16 de
março de 2020) proferiu - até o início do mês de outubro de 2021 - nada menos
que 1,1 milhão de decisões.[7]
Clique aqui e confira a íntegra da coluna.
Bernardo Souza Barbosa: Doutorando pelo IDP. Mestre em Direito Público
pela FGV/SP. Advogado
Felipe Banwell Ayres: Advogado. Pós-graduando em Direito Imobiliário pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO).
Fonte: Migalhas