Com discurso iniciado por
homenagem aos mais de 120 mil mortos pela Covid-19, o ministro Luiz Fux tomou
posse na presidência do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Supremo
Tribunal Federal (STF) para o biênio (2020/2022). A cerimônia ocorreu nesta
quinta-feira (10/9), em sessão solene da Suprema Corte, transmitida ao vivo
pelos canais oficiais de comunicação do STF. Fux substituiu o ministro Dias
Toffoli à frente dos dois órgãos. A cerimônia contou com um público restrito em
razão da pandemia.
Cerca de 50 pessoas, entre
familiares, magistrados, conselheiros do CNJ, representantes do Poder
Legislativo e do Ministério Público participaram presencialmente do evento. A
cerimônia contou com a participação do presidente da República, Jair Bolsonaro,
do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, do presidente do Senado
Federal, Davi Alcolumbre, do procurador-geral da República, ministro Augusto
Aras, e do presidente do Conselho Federal da OAB, Felipe Santa Cruz, entre
outras autoridades. A ministra Rosa Weber foi empossada no cargo de
vice-presidente do STF e do CNJ na mesma cerimônia.
Em seu discurso, Fux anunciou,
como uma de suas primeiras ações à frente do CNJ, a criação de um canal
permanente para o diálogo entre o Judiciário e a sociedade civil, por meio do
Observatório de Direitos Humanos, com a participação de lideranças nacionais.
“A sociedade civil terá, assim, voz para propor iniciativas a serem adotadas
por toda a justiça brasileira em matéria de direitos humanos”, disse.
Ele apresentou cinco eixos de
atuação alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030,
da Organização das Nações Unidas, à frente do Conselho e do Supremo. São eles:
a proteção dos direitos humanos e do meio ambiente; a garantia da segurança
jurídica conducente à otimização do ambiente de negócios no Brasil; o combate à
corrupção, ao crime organizado e à lavagem de dinheiro, com a consequente
recuperação de ativos; o incentivo ao acesso à justiça digital, e o
fortalecimento da vocação constitucional do STF.
Fux ressaltou que o Poder
Judiciário tem refletido sobre os resultados que tem oferecido à sociedade, em
relação à governança, eficiência, inovação tecnológica e transparência. “Nos
próximos dois anos, daremos passos largos em direção ao acesso à Justiça
digital, amplo, irrestrito e em tempo real, a todos os brasileiros”, afirmou.
Impacto na sociedade
Em seu discurso de posse, Fux
defendeu a eficiência do STF frente aos conflitos constitucionais e citou
decisões tomadas pelo colegiado e que impactaram a vida em sociedade, como o
reconhecimento de direitos dos povos indígenas e dos afrodescendentes, nas
ações afirmativas em prol das minorias étnicas, na legitimação das uniões
estáveis homoafetivas, e na validação da Lei Maria da Penha. Também ponderou
que o órgão não detém o monopólio das respostas, “nem é o legítimo oráculo para
todos os dilemas morais, políticos e econômicos de uma nação”.
De maneira enfática, o novo
presidente do Poder Judiciário propôs que os agentes políticos e atores do
sistema de Justiça deem um basta na judicialização “vulgar e epidêmica” de
temas e conflitos que devem ser decididos na arena política e não no
Judiciário. “Legislativo e Executivo devem resolver interna corporis seus
próprios conflitos e arcar com as consequências políticas de suas próprias
decisões”, afirmou Fux. E, completou: “Democracia não é silêncio, mas voz
ativa; não é concordância forjada seguida de aplausos imerecidos, mas debate
construtivo e com honestidade de propósitos”, disse.
Liberdade de expressão
O novo presidente do CNJ,
ministro Luiz Fux, reforçou ainda que, de forma harmônica e mantendo um diálogo
permanente com os demais Poderes, o Judiciário não hesitará em proteger
minorias, em garantir liberdade de expressão e liberdade de imprensa, e em
preservar a democracia e o sistema republicano de governo. Fux também reforçou
que não admitirá qualquer recuo no enfrentamento da criminalidade organizada,
da lavagem de dinheiro e da corrupção.
“Não permitiremos que se obstruam
os avanços que a sociedade brasileira conquistou nos últimos anos em razão das
exitosas operações de combate à corrupção autorizadas pelo Poder Judiciário
brasileiro, como ocorreu no Mensalão e tem ocorrido com a Lava Jato”, alertou.
Com um discurso forte e emocionado,
Fux disse acreditar na sociedade democrática, “onde o direito de discordarmos
uns dos outros deve ser reconhecido como requisito essencial para o
aprimoramento do ser humano e das instituições. “O dissenso expõe os excessos
de cada lado do debate e convida a coletividade a enxergar as diversas
perspectivas de um mesmo mundo. É somente através da justaposição entre os
diferentes que construímos soluções mais justas para os problemas coletivos”,
defendeu.
Carioca, de 67 anos, Fux nasceu
em uma tradicional família judaica de advogados, formou-se na Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), onde é professor desde 1988. Entrou na
magistratura em 1983, foi juiz eleitoral, desembargador do Tribunal de Justiça
do Rio de Janeiro (TJRJ) e, em 2001, mudou-se para Brasília, a fim de tornar-se
ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Distanciamento social
Em respeito às recomendações do
Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde – para evitar a
disseminação do novo coronavírus – foram adotadas diversas medidas sanitárias
com base em orientações da Secretaria de Serviços Integrados de Saúde (SIS) do
STF e apenas um quinto dos lugares existentes na Sala de Sessões Plenárias do
STF foi liberado para receber os convidados. Também não houve a tradicional
fila de cumprimentos. Os convidados presenciais da posse de Fux passaram por
aferição de temperatura e utilizaram obrigatoriamente máscara de proteção. O
STF adquiriu dispersores de álcool gel acionados por pedal que, depois de
utilizados na cerimônia, serão incorporados às instalações do órgão. Os demais
convidados, cerca de 4 mil pessoas, acompanharam a solenidade ao vivo, de
maneira on-line.
Fonte: Conselho Nacional
de Justiça